André Francisco Sontak de Morais
Quando o espetacular era concentrado,
a maior parte da sociedade periférica lhe escapava; quando era difuso, uma pequena
parte; hoje, nada lhe escapa.
Guy
Debord
Este
ensaio é resultado da disciplina Tópicos Especiais em Poéticas Contemporâneas: Atrações Temporárias e Estéticas Emergentes
nas Cidades, do Programa de Pós-graduação em Estudos de Cultura Contemporânea
(ECCO) da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ministrada pela profa Dra Maria Thereza Azevedo. O texto busca refletir
sobre a intervenção urbana “Cuyaverá
Magic Oeste World”, tendo como ponto de partida o conceito de “espetacularização
urbana”.
Visitar
o espaço da Orla do Porto é sempre um espetáculo de encher os olhos, daquilo que se vende/compra como mercadoria, então, porque não criar um pacote turístico para
visitar a Orla do Porto em Cuiabá? Assim surgiu o Cuyaverá Magic Oeste World,
um pacote turístico para conhecer a capital do Pantanal.
Logo Cuyaverá
Magic Oeste World
A
rede social Facebook foi uma ferramenta potente de propagação do pacote turístico
Cuyaverá. Na página do evento no Facebook foi disponibilizado a logo (que
buscou se inspirar no material gráfico dos parques temáticos da Disney), o
mascote (que trouxe a imagem da onça pintada) e a descrição detalhada do roteiro
turístico:
Roteiro Cuyaverá
Magic Oeste World
A
competição local por turistas ou empreendedores estrangeiros é acirrada. As
municipalidades se empenham para melhor vender a imagem de marca da sua cidade,
em detrimento das necessidades da própria população local, ao privilegiar
basicamente o visitante, através de seu maior chamariz: o espetáculo. O
patrimônio cultural urbano passa, assim, a ser visto como uma reserva, um
potencial de espetáculo a ser explorado (JACQUES, 2003, p. 01).
Desta
forma, promover e vender são as principais preocupações deste espetáculo contemporâneo,
sem se preocupar com as necessidades locais, que neste caso procuramos
destacar, com muito humor, no roteiro turístico do Cuyaverá Magic Oeste World. Uma
delas que evidencio neste texto é a palmeira imperial. Isso mesmo, aquela palmeira
enorme, bonita, importada e que não faz sombra.
Palmeira Imperial
Foto: Ana Lia Rodrigues
A foto da mangueira que fixamos na palmeira como parte da intervenção, tece uma crítica sobre a arborização realizada no espaço da Orla do Porto. As
palmeiras não produzem sombras, a única utilidade é justamente a do espetáculo,
embelezado para vender. O modelo do
espetáculo, que beneficia o turista em detrimento da necessidade local, privando
a população da sombra, extremamente necessária na cidade de Cuiabá, que devido ao
clima tropical possui uma sensação térmica elevada de calor.
A intervenção urbana Cuyaverá Magic
Oeste World propôs refletir sobre problemas estruturais no espaço da Orla do
Porto de Cuiabá. Problemas que afastam a população local e inutilizam o espaço por
falhas na execução do projeto. Pensar e vislumbrar soluções foram propostas da
intervenção urbana. A cultura e participação da população precisam ser
determinantes no planejamento destes espaços públicos, só assim serão criados
verdadeiros espaços de lazer e convivência.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
DEBORD,
Guy. A
sociedade do espetáculo: comentários sobre a sociedade do espetáculo. Rio de
Janeiro: Contraponto, 1997 [1967].
JACQUES,
Paola Berenstein; BRITTO, Fabiana D. Corpocidade:
Arte enquanto micro-resistência urbana. Fractal: Revista de Psicologia, v.
21 – n. 2, p. 337-350, Maio/Ago. 2009.
JACQUES,
Paola Berenstein. Patrimônio cultural
urbano: espetáculo contemporâneo. Cadernos PPGAU – UFBA, v.6 – n. 1, p.
32-39. 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário