quarta-feira, 17 de maio de 2017

A composição do complexo arquitetônico..


O complexo arquitetônico da orla cuiabana
Foto 01: turismomt.com.br
Foto 02:Djalma Santos

Spots publicitários turísticos em meio ao branding urbano.
Djalma Alves dos Santos.

            A produção deste texto tem fundamentação na disciplina Tópicos Especiais em Poéticas Contemporâneas II: Atrações Temporárias e Estéticas Emergentes nas Cidades, ministrada pela professora Dra. Maria Thereza de Oliveira Azevedo (PPGEECCO-FCA/UFMT).
            Durante o percurso da disciplina esteve em pauta uma vasta problematização sobre todo o processo de ocupação urbana, ou seja, a forma como as cidades são concebidas em sua composição arquitetônica.
            Diversas chaves de discussões e possibilidades teóricas e metodológicas, com uma vasta bibliografia sobre os temas avançaram frente a questões como as formas de operação do capitalismo, busca de outras formas de estar no mundo, caminhar com objetivos estéticos, gêneros artísticos da paisagem das grandes cidades, e demais temas afins.

            Há inúmeras definições para o conceito, ou os conceitos de cultura. Na essência capitalista o objetivo do ultrapassa seus limites, chegando a mais valia, criando indivíduos normalizados que permeiam pela industrialização da cultura. O objetivo e desenvolver um processo de massificação cultural, onde a subjetividade perde seu espaço. Esses conceitos resultantes do processo de colonização e da chamada modernidade européia-norte-americana são essencialmente etnocêntricos. 
            No entanto novas formas de mundo e construção de conhecimento têm crescido nos últimos tempos, cruzando fronteiras do pensamento em relação às ciências sociais, buscando sua autonomia. Isso tem refletido significativamente sobre a realidade cultural e política da América Latina, apontando para uma nova de entendimento da modernidade.
            O processo de globalização tem sua base em construção histórica, com uma seleção de acontecimentos que marcaram o contexto europeu: Reforma Protestante, Revolução Industrial e Francesa, Estado Nação, Razão e Individuo. Esse processo eurocêntrico visto como uma única perspectiva epistemológica sobre a modernidade e colonialidade precisa ser rompido, abrindo novas diretrizes para a geo-história Latino Americana. Isso se caracterizaria como uma “descolonização epistemológica”.
            Esse breve resumo tem por objetivo contextualizar o foco central deste texto, em sua esfera cultural, abordando as possibilidades de falar sobre mundo e conhecimento de outro modo. O capitalismo contemporâneo traz a tona suas palavra signos e imagens. Considerando todos esses conceitos seria então possível construir um imaginário econômico capaz de não se subjugar ao neoliberalismo.

A intervenção urbana como um tipo tático-lúdico

            Em certas tardes nós subíamos
            Ao edifício. A cidade diária,
            Como um jornal que todos liam,
            Ganhava um pulmão de cimento e vidro.
            A água, o vento, a claridade,
            de um lado o rio, no alto as nuvens
            situavam na natureza o edifício
            crescendo de suas forças simples.

                                   (João Cabral de Melo Neto: poesias completas, Rio de Janeiro, Sabiá, 1969).

            Todo projeto arquitetônico ao longo da História da formação das cidades emerge da consciência do projetista na busca de uma representação gráfica. Nesse contexto se estabelece um dialogo entre o profissional, o cliente e o construtor. No entanto nessa divisão de especialidades surge também outros conceitos de linguagem, representação e interpretação semiótica nos processos das construções arquitetônicas. De maneira particular, a semiótica, por exemplo, se ocupa de estudos que desenvolvem conceitos para a interpretação dos modelos de ocupação urbana, sua interpretação, comunicação, valor histórico, cultural, estético e significados. Frente a esses conceitos, a arquitetura enquanto ciência teria então como papel principal estabelecer relações entre os seres humanos em meios às construções arquitetônicas, assim como com outras representações.
            Mas analisando conceitos da semiótica do poder, por exemplo, o que acaba predominando, são sinônimos de grandezas que se fundamentam e se materializam em elementos arquitetônicos não palpáveis, ou seja, “paratáticos”. As composições de suas linhas criam fronteiras de poder, estabelecendo limites, resultando em composição compartimentada. Essa perpetuação do poder pode ser observada nas construções dos diferentes períodos da História: pirâmides egípcias incas e maias, torres de igrejas, chaminés das fábricas e nos arranha céus contemporâneos. Não há nesses espaços a possibilidade do indivíduo ser, mas sim apenas estar.
            É possível, no entanto, diagnosticar inúmeras mudanças que nossa sociedade vem apresentando nos últimos tempos, contextualizadas, sobretudo a partir das décadas de 1960. Isso vem ocorrendo em virtude dos fracassos das instituições políticas em um crescente quadro de descrenças, abrindo espaços para as micropolíticas e suas subjetividades e suas práticas de intervenção urbana. Essas manifestações não são exclusivamente de resistência à ordem política e econômica vigente contemporâneos, mas na busca de novos significados subjetivos estabelecendo laços de uma política afetiva de estetização e comunicação. Essa busca de uma coesão social diante das técnicas publicitárias, uso do espaço público por forças econômicas, que geralmente não encontram nenhum tipo de resistência. Guy Debord definiu essa verticalização de poderes, com sua lógica mercadológica, como um processo de colonização de todos os setores da vida, onde todos são apenas meros espectadores de seus resultados.
            Ainda citando Guy Debord, onde ele define essa verticalização como a chamada sociedade do espetáculo, composta por camada social restrita que acaba ultrapassando suas fronteiras com a cultura do consumo em todos os espaços públicos.
            Nas relações de poder, Michael Foucault, afirma que não há um único poder, e que nenhum poder existe em si mesmo, mas que também se estende à todas as esferas sociais, e vai se desenvolvendo nas práticas do cotidiano de uma sociedade em constantes embates de resistência. As práticas de intervenção urbana não objetivam necessariamente desenvolver conteúdos de críticas ideológicas e práticas políticas, mas sim apontando  a possibilidade de uma prática política justa, frente aos paradigmas ético, estético e político. Não há então possibilidade de universalizar nenhuma prática nesse campo, onde tudo é político em esferas micropolítica e micropolítica. 
            Frente ao determinismo da subjetividade da economia capitalista neoliberal, Felix Guattari, aponta a necessidade de proposições heurísticas em relação as interferências urbanas, onde destaca que sua atuação somente em campos representativos não são suficientes, onde a micropolítica alcança um domínio amplo da vida social. Os pensadores americanos Best e Kellner reforçam ainda os riscos das práticas culturais serem marginalizadas diante dos poderes dominantes e ainda serem absorvidas pelas práticas da indústria cultural. Essa possibilidade seria então possível diante das fragilidades das práticas narcisistas, hedonistas, esteticistas ou apenas de uma simples terapia social.
            Um outro detalhe abordado por Ricardo Rosas trata das intervenções que possuem objetivos políticos hibridizados evolvendo vários segmentos do conhecimento como arte ciência e política, com temáticas  que podem também estabelecer um conceitos de ordem, não definindo claramente seus objetivos. Essa prática também fragiliza os movimentos tornando-se um alvo fácil para o sistema dominante.
            A concepção do sujeito enquanto pertencente a realidade social se manifesta em diversas linguagens como forma de participação e expressão: oral, corporal e outras materialidades culturais. No espaço urbano a participação se da através de uma subjetivação que leva a um sentimento de pertencer ao meio de forma individual ou coletiva. Nesse sentido compreende-se a vida urbana como um produto coletivo que pode ser compartilhado, onde o corpo é a materialidade desse contexto. No entanto o que acaba ocorrendo nos espaços urbanos é não inserção do indivíduo ao meio de forma reconhecível, mas sim a presença do branding urbano a serviço do consumo de massa. 
             Depois de toda essa leitura, a citação a seguir, da ação de um grupo em Belo Horizonte, terá por objetivo estabelecer uma ligação com a intervenção urbana temporária realizada pela turma na Orla Cuiabana.
            “Se o espaço é público por que não retomar criticamente os espaços que tem sido usado para vender lixo, propagar preconceitos e gerar mais lucro para os malditos milionários da TV? A rua é publica, e esse espaço também deveria ser. Use-o para as reais necessidades das pessoas, não para o interesse financeiro de poucos”.
            A atividade de intervenção urbana realizada se desenvolveu com o slogan “Cuyaverá Magic Oeste World”. As proposições para essa forma de intervenção corporal e com uso de outras formas de linguagem, como fotos e cartazes partiram das observações sobre as formas de como a realização das obras ás margens do Rio Cuiabá foram executadas. A implantação do projeto desconsiderou completamente os casarões históricos da cidade em ruínas, assim como a vegetação presente as margens do Rio. As palmeiras imperiais com imponência de tamanho não estabelece nenhuma harmonia estética e de algum bem estar.
            A estetização arquitetônica assume um papel de representação do período histórico colonial. Visualmente atraente, acaba servindo apenas para fomentar uma atividade turística limitada a uma fachada fictícia, quase que em uma espécie de Projac no cerrado de Mato Grosso.
            Objetivamente essa discussão não se encerra por aqui. Pontuações relacionadas aos mais diversos temas e formas de intervenções urbanas temporárias poderão continuará diante das complexidades do processo de urbanização e das possibilidades de vivenciar o espaço público. Esse processo naturalmente trará sempre novas demandas sistemáticas para serem debatidas.

Djalma Alves dos Santos.
Graduado em História, artista plástico e designer de móveis em marchetaria.
Aluno do mestrado do ECCO 2017.                      

Referencias bibliográficas

GUATTARI, Felix(1992). Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: editora 34.
KLEIN, Naomi (2002) . Sem logo: a tirania das marcas em um planeta vendido. Rio de Janeiro: Record.
ROSAS, Ricardo (2006). Notas sobre o coletivismo artístico no Brasil.
PIGNATARI, Decio (1927). Semiótica da arte e da arquitetura. 3º edição. Cotia SP. Ateliê Editorial. 2004.
MAZETTI, Henrique Moreira.


           

           


           

           

           

           

             

           

           

           

           


                

           

                



 

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